07 julho 2011

Workshop com o obstetra francês Michel Odent, em São Paulo (05/07/2011)

Por Adriana Natrielli


Michel Odent falou, com a tradução simultânea da parteira carioca Heloisa Lessa, sobre a falta de compreensão atual das necessidades das mulheres em trabalho de parto. Segundo o obstetra, essa falta de compreensão surge como resultado de condicionamentos culturais muito difíceis de serem superados. Odent sugere que chegamos ao “fundo do poço” com a negação da importância dos hormônios do amor no processo de nascimento, um impasse causado pelo uso freqüente da ocitocina sintética e pelos avanços técnicos que tornam a cesariana tão segura.

 
Contudo, considera também que estamos num fecundo momento de virada dessa situação. Como aliada no resgate dos partos guiados pelos hormônios do amor, Odent cita a fisiologia moderna, segundo a qual, o processo do parto é evento puramente involuntário e, como tal, não pode ser ajudado. Sendo assim, há um paradoxo, pois nossa sociedade que encontra-se condicionada culturalmente a não medir esforços para ajudar as parturientes nesse processo, tende, no fim, a bloqueá-lo. Nesse sentido, Odent comenta como a epidemia de vídeos e imagens que temos hoje reforça o paradigma dominante de que uma mulher dando a luz não pode ser deixada sozinha e deve ser intensamente assistida.
            A única forma de ajudar seria, simplesmente, não fazer nada. Na melhor das hipóteses, o parto seria "ajudado" caso fossem afastadas as situações que poderiam inibir o processo. A postura correta então proteger o processo do parto através de duas diretrizes.
1) Evitar o estímulo neo-cortical.
2) Proteger  a interação entre a produção de ocitocina e adrenalina.
            Sobre o neo-cortex, sabemos que o cérebro humano é diferente do de outros mamíferos por possuir, além de sua parte primitiva, um neo-cortex super desenvolvido. É nessa parte que processamos todas as operações racionais como o uso da linguagem, as operações com números e coisas do gênero. Então no parto a natureza deu um jeito de nos fazermos mamíferos comuns novamente, puro instinto, desligando essa parte do cérebro. Por isso, na hora do parto, a mulher precisa desligar seu neo-cortex para que o parto aconteça, tem que virar animal, o que se expressa invariavelmente num comportamento estranho, em falar coisas desconexas e em andar sobre quatro apoios.  Para que isso seja possível, Odent cita três atitudes simples que podem ajudar muito na introspecção da mãe e inibição de seu neo-cortex:
1) O cuidado com a linguagem, priorizando suas formas não verbais e, sobretudo, a promoção do silêncio. Deve-se por exemplo evitar que sejam feitas perguntas, a uma parturiente em trabalho de parto e tão pouco deve ela se preocupar com horas, minutos ou centímetros. Esse tipo de preocupação invariavelmente resulta em um esforço mental que ativa demais o neo-cortex, por fim,  bloqueia a produção dos hormônios que fazem o útero se contrair e a dilatação evoluir.
2) A ausência de luz, pois a escuridão ajuda na produção de melatonina que reduz a atividade neo-cortical.
3) A postura de não deixar que a parturiente sinta-se observada, mas que, ao mesmo tempo, sinta-se segura pela presença de pessoas íntimas.
            No sentido de contribuir com a produção de ocitocina a primeira medida sugerida, seria evitar que a parturiente em hipótese alguma sinta frio, as demais medidas se referem todas a inibir a produção de adrenalina.
            Com relação à interação entre os hormônios ocitocina e adrenalina, sendo estes antagônicos, Odent reforça a intenção de não deixarmos que nenhum nível de adrenalina seja produzido durante o trabalho de parto. Para isso, cita o interessante fato de que os estados emocionais são contagiantes entre as pessoas, o que pode ser explicado pelo funcionamento de nosso sistema neuronal na forma de espelhos. O processo de parto deve então ser protegido da presença de pessoas que produzam altos níveis de adrenalina.
            Outra atitude interessante para manter controlados os níveis de adrenalina são os movimentos repetitivos. Por fim, Odent se emociona ao lembrar que as autênticas parteiras com as quais trabalhou por anos mantinham um baixo nível de adrenalina, fazendo tricô enquanto aguardavam calmamente o desenrolar dos trabalhos de parto.

Adriana Natrielli
Doula e doutoranda em Filosofia – USP
Email- adrinatrielli@uol.com.br

Um comentário:

  1. Maravilhoso, adri.
    Eu estava lá e vc colocou muito bem o conteudo do workshop.
    obrigada
    Katia

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